Educação Sistêmica e Caminhos para a Aprendizagem Colaborativa

Por Profª Msc. Lívia costa de Andrade
Palestrante do XII Seminário Mutidisciplinar de Educaçãoe fundadora e diretora do Instituto Sistêmico EnVolver

A “Educação Sistêmica” originou-se a partir dos trabalhos do filósofo e professor alemão, Bert Hellinger.

Sua carreira como missionário católico na África do Sul durante quase 20 anos lecionando em escolas para os zulus, durante o regime do apartheid, colocaram-no em uma perspectiva ímpar para identificar questões de conflito e consciência. Mais tarde seu desenvolvimento pessoal o levou a estudar e praticar uma vasta gama de abordagens psicoterapêuticas, a saber: psicanálise, análise transacional, hipnoterapia Ericsksoniana, terapia primal, Gestalt, esculturas familiares, análise de histórias, etc. Seus trabalhos o levaram a descobrir a natureza da consciência pessoal e das leis inconscientes que ditam o comportamento humano em grupos familiares e sociais, as quais denominou inicialmente “ordens do amor” e mais recentemente “leis naturais dos relacionamentos humanos”. Mais tarde diversos professores e pedagogos iniciaram a aplicação do método na área educacional, sendo a contribuição mais relevante feita inicialmente por Mariane Franke-Gricksh, a qual escreveu um livro denominado “Você é um de nós” (publicado no Brasil pela Editora Atman – www.atmaneditora.com.br) e o grupo do Centro Universitário Doctor Emílio Cárdenas (CUDEC), em Thalnepantla, México. Depois disso a abordagem se difundiu pelos países de fala espanhola, especialmente México e Espanha.

Como aplicar?

Esse é um tema crucial na abordagem. Tratando-se de uma abordagem filosófica em primeiro plano, a Educação Sistêmica não é na verdade uma metodologia em si. Ela mostra como muitas das intervenções desenhadas para solucionar problemas na relação escolaaluno-família falham devido ao desconhecimento das leis inconscientes que governam o grupo familiar. Mostra ainda como é possível, através do conhecimento dessas leis, atuar de forma simples e marcante, atingindo os objetivos propostos. Nesse sentido, a abordagem não exclui nenhuma metodologia já existente e aproveita todas as formações e conhecimentos pregressos do corpo docente e dirigente da escola. Apenas, através do referencial novo propiciado pela abordagem podemos re-enquadrar as intervenções dentro de um referencial mais efetivo.

Um exemplo simples: em muitas situações familiares o pai está excluído. As razões são várias e não vem ao caso aqui discuti-las. Porém, Hellinger descobriu que num nível muito profundo as crianças são totalmente
leais aos pais e especialmente quando esses são excluídos, desvalorizados e condenados. Isso significa que se permitimos que esse pai seja olhado também na escola como “mau”, “inapropriado”, “ausente” etc. não teremos nunca um apoio da criança em qualquer intervenção pretendida. Pelo contrário, se respeitamos seu destino e nos colocamos numa posição de neutralidade respeitosa, respeitando “na criança” seu próprio pai, então teremos um bom terreno onde trabalhar nossas intervenções.

A aplicação, portanto, consiste em possibilitar ao corpo docente a visão dessas relações e leis inconscientes de forma que todo seu trabalho seja permeado pela visão das relações que perpassam o universo da criança.

Assim, em cada momento a professora, orientadora, pedagoga etc., terão em seu campo de visão como intervir sem ferir as leis sistêmicas e assim ter mais chance de sucesso em seu trabalho.