O Pedagogo e a capacitação para a inclusão escolar: relatos de uma surda oralizada

 

O pedagogo é obrigado por lei a ter uma capacitação para inclusão escolar. O que é inclusão? Quem é o aluno especial? Quais são os seus direitos? A especialização do pedagogo é extremamente importante para o atendimento educacional especializado.

 

Quando se estuda sobre a inclusão educacional, compreende-se que o grande objetivo das políticas públicas e sociais é a eliminação de qualquer situação de exclusão. Direitos iguais para pessoas diferentes. Não somos iguais! Somos únicos com necessidades e direitos que nos garantam qualidade de vida; direito de ir e vir; direito de comunicação e, em especial, direito à vida.

 

A Faculdade ICG, dentro de várias Pós-Graduações, trabalha este paradigma de tamanha importância para uma nova concepção educacional e social. Na Pós de Educação Especial na Perspectiva do Atendimento Educacional Especializado, foram realizados estudos sobre a aquisição da Língua de Sinais como primeira língua e este artigo é apresentado na íntegra abaixo.

 

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RELATOS DE UMA SURDA ORALIZADA

 

Sandra Isabel Chaves
Danusa Rodrigues Pereira
Aurea Maria Da Silva Martins
Maisa Rodrigues De Siqueira Pedrosa
Marizete Celino Da Silva Borges

 

RESUMO: Nenhuma mãe enquanto está grávida sonha com um filho deficiente, nenhuma família enquanto mima uma barriga se prepara para chorar o luto de um parente com deficiência. Não existe preparo emocional que antecipe a dor de ver que um filho que está sendo gerado com amor e afeto, carregará o estigma de diferente. Esse artigo propõe-se a relatar como a experiência educacional de C.C.S.B., se entrelaça à teia histórica construída da educação de surdos e como a concepção de educação escolhida na infância pode influenciar na vida do sujeito surdo, mesmo depois do término de seus estudos. Apresenta também como o caminho percorrido pelos familiares pode ser doloroso, mas importante para a construção de um futuro de sucesso. Neste relato, apresenta-se também a importância da aquisição da Língua de Sinais como primeira língua (L1) para o sujeito surdo e as consequências de se ignorar toda a cultura que essa língua carrega. Neste relato a vida de C.C.S.B. é colocada à luz da revisão bibliográfica de autores como Aranha (2005); Cambruzzi (1998); Carvalho (2000), Goldfeld (2002), Quadros (2011). C.C.S.B., hoje, adulta, apresenta como sua vida escolar e social foi afetada pelo fato de ser surda e ter sido tratada como ouvinte, sendo-lhe negado o direito de ter o contato com a sua língua natural, a Língua de Sinais. O texto apresenta como informações importantes sobre aquisição da língua foram negadas à família e afirma, com base em sua experiência de vida, como o sujeito surdo deve ser exposto a sua língua natural a LIBRAS o mais cedo possível.

 

PALAVRAS-CHAVE: Educação. Luto. Superação.

 

INTRODUÇÃO

 

Nenhuma mãe enquanto está grávida sonha com um filho deficiente, nenhuma família enquanto mima uma barriga se prepara para chorar o luto de um parente com deficiência. Não existe preparo emocional que antecipe a dor de ver que um filho que amado com estigma de diferente.

 

Esse artigo propõem-se a relatar como a experiência educacional e de vida de C.C.S.B, como esta se entrelaça à teia histórica construída da educação de surdos e como essa concepção e opção da língua escolhida na infância pode influenciar na vida do sujeito surdo, mesmo depois do término de seus estudos. Apresenta também o caminho percorrido por todos os envolvidos nesse processo, a dor da família, período também conhecido como luto e como tudo isso é importante para a construção da identidade do sujeito.

 

C.C.S.B. nasceu no dia 31/10/1984 em Goiânia-Goiás. Filha de pais ouvintes tem um irmão, também ouvinte. Segundo a mãe, não houve problema durante a gestação, somente enjoos no primeiro trimestre. O trabalho de parto teve 14 horas de duração e o parto foi normal. Durante todo o período em que sentiu dores, a mãe estava dentro do hospital, sendo assistida por médicos e enfermeiras.

 

Ainda de acordo com a mãe, o pré-natal teve início a partir do segundo mês de gestação e de acordo com os profissionais da saúde, que a acompanharam, tanto a mãe, quanto o bebê estavam dentro do considerando normal, ou seja, não havia nada, que exigisse maiores cuidados.

 

Desde o nascimento, C.C.S.B. sempre foi muito saudável. Foi amamentada até os três meses e nunca apresentou nenhum problema grave de saúde. Somente os problemas característicos de recém-nascidos como dor de barriga, gripes, resfriados, cólicas, sendo que, dores de ouvido, não aconteceram.

 

Nos primeiros meses de vida, o bebê parecia responder aos estímulos. De acordo com a mãe, ela balbuciava quando a mãe conversava com voz infantilizada, sorria e acompanhava com os olhos, quem estivesse no ambiente.

 

O balbucio ocorre em todos os bebês, e são manifestadas por meio de sons e sinais. Segundo Quadros (1997), nos bebês surdos, foram detectadas duas formas de balbucio manual: o balbucio silábico e a gesticulação. O balbucio silábico apresenta combinações que fazem parte do sistema fonético das línguas de sinais. Ao contrário, a gesticulação não apresenta articulação interna. Os dados apresentam um desenvolvimento paralelo do balbucio oral e do balbucio manual. Os bebês surdos e os bebês ouvintes apresentam os dois tipos de balbucio até um determinado estágio e desenvolvem o balbucio da sua modalidade. As vocalizações são interrompidas nos bebês surdos assim como as produções manuais são interrompidas nos bebês ouvintes, pois o input favorece o desenvolvimento de um dos modos de balbuciar. (1997, p.70-71)

Assim enquanto a criança balbuciava não era possível nenhuma suspeita de surdez. Nos meses seguintes, a avó paterna começou a questionar o comportamento da neta. Fazia testes simples como deixar coisas caírem no chão, enquanto estava de costas, mas sem sucesso, pediu autorização à mãe e marcou uma consulta médica. A médica orientou consultar um otorrinolaringologista, para fazer os exames necessários.

 

A consulta foi marcada, os exames foram feitos e C.C.S.B. foi diagnosticada com surdez neurossensorial profunda. Essa lesão ocorre no ouvido interno, causando uma alteração auditiva irreversível. As doenças que mais causam esse tipo de lesão são a meningite e a rubéola materna.

 

Aranha (2005) explica que o ouvido humano é composto por partes: externa e internas. A parte externa é composta pelo pavilhão auricular, o conduto auditivo e a membrana timpânica. Essa estrutura tem a função de receber as ondas sonoras e transportá-las até o tímpano. A membrana timpânica separa o ouvido externo do ouvido médio. Na parte interna está o ouvido médio e nele estão localizados o martelo, a bigorna e o estribo que são minúsculos ossinhos presos por músculos que têm função de se moverem para frente e para trás. Esses ossinhos ajudam a transportar as ondas sonoras até a parte interna do ouvido. Ainda na parte interna temos a cóclea, os canais semicirculares e o nervo auditivo. A cóclea contém células ciliadas com terminações nervosas que são capazes de converter as ondas sonoras em impulsos elétricos e esses são enviados ao nervo auditivo e deste para os centros auditivos do cérebro.

 

O processo de decodificação de um estímulo auditivo começa na cóclea e termina nos centros auditivos do cérebro, possibilitando a compreensão da mensagem recebida. Qualquer alteração ou distúrbio no processamento normal da audição constitui uma alteração auditiva determinando para o indivíduo, uma diminuição da sua capacidade de ouvir e perceber sons.

 

De acordo com o laudo dos exames, no caso de C.C.S.B. a parte comprometida foram os cílios da cóclea, caracterizando a surdez profunda.

Essa lesão é irreversível, a causa mais comum, nesse tipo de lesão acontece, quando o sujeito tem meningite ou o bebê é contaminado pela mãe doente, ainda no útero. Além da meningite, a rubéola, também, pode causar surdez.

 

De acordo com os relatos da mãe de C.C.S.B., os 9 meses de gestação foram tranquilos. Nenhum médico conseguiu descobrir o que causou a surdez de sua filha já que, aparentemente elas estavam bem. Por outro lado, fica a dúvida: a rubéola é uma doença que pode passar despercebida.

 

Segundo Pinheiro (2009), a rubéola, na maioria dos casos, apresenta pouco ou nenhum sintoma. Isso acontece principalmente nas crianças, que costumam ter rubéola bem fraquinha. Algumas pessoas não desenvolvem sintomas após contato com o vírus. Aqueles que desenvolvem os sintomas da rubéola apresentam melhoras espontaneamente.

 

Como não foi possível descobrir e documentar a causa da surdez de C.C.S.B., os médicos concordaram com a hipótese de que a surdez é congênita, ou seja, ela já nasceu surda. Ao conversar com os familiares, descobriu-se que, o avô materno tinha uma prima muito distante, portadora dessa deficiência, mas não há nada comprovado. Sendo assim, quanto a Etiologia, a causa da surdez se encaixa como sendo pré-natais – surdez provocada por fatores genéticos e hereditários.

 

Depois de fazer todos os exames e receber o diagnóstico de que a filha é surda, a família foi orientada pela fonoaudióloga a aparelhá-la e dar início às terapias. Nenhum encaminhamento foi feito sobre a aquisição da Língua de Sinais e as orientações indicaram que C.C.S.B. deveria ser criada como ouvinte. Aqui é clara mesmo que à revelia, a opção da família pelo oralismo.

 

De acordo com Goldfeld (2002), para concepção oralista, a única forma do surdo fazer parte da comunidade ouvinte é através da fala. No caso do Brasil, é necessário desenvolver a Língua Portuguesa. Essa concepção entende a surdez como uma deficiência que só pode ser amenizada com a aquisição da fala, por meio da instigação auditiva. Esse processo levaria o surdo a desenvolver uma personalidade ouvinte.

 

Afirma Goldfeld (2002, p. 34) que, “o objetivo do Oralismo é fazer uma reabilitação da criança surda em direção à normalidade, à „não-surdez‟.”

Segundo a mãe, no dia em que ela recebeu a notícia de que a filha é surda, foi tomada por uma profunda tristeza e depois, desespero. Quem deu a notícia foi um médico do Hospital Otorrino de Goiânia. Ele foi incisivo, “de acordo com o resultado do exame, sua filha é surda e agora, a próxima providência é colocar um aparelho de amplificação sonora e fazer terapias, boa sorte”!

 

A mãe se fazia muitas perguntas e uma delas era: eu nunca vou ouvir minha filha dizer “mamãe”! e mesmo diante do novo, da tristeza e do luto, período compreensível pelo qual toda família passa, ao receber tal diagnóstico.

Para família, o diagnóstico de qualquer tipo de deficiência é devastador e faz com que ela enfrente um desafio único.

 

Carvalho (2000) afirma que, Não é difícil, pressupor que o fato de alguém da família ser identificado por critérios objetivos, médicos ou educacionais, como surdo, constitui-se numa experiência que marca tanto a criança como a família, e que pode alterar o funcionamento intersubjetivo de todos, na medida em que tal diferença impõe, de forma imprevista e definitiva, a perda para sempre da ilusão do filho perfeito. (2000, p.69)

 

Ao receber o diagnóstico de surdez, a primeira reação é de choque, a segunda é de reconhecimento, quando começam a admitir a condição emocional. Há casos em que os pais se colocam incapazes de criar um filho surdo, se sentem confusos e podem até entrar em pânico. Podem surgir inúmeros sentimentos como raiva, depressão, culpa, pena e a superproteção. O próximo estágio é o de murmúrio, podem ficar na defensiva ou negação, saem em busca de opiniões diferentes, tentando um diagnóstico melhor ou, no caso da C.C.S.B, depois de sofrer com a notícia, os pais começaram a correr contra o tempo, na tentativa de compensar o tempo que já havia sido perdido.

 

O que aconteceu com a família em seguida pode ser constatado por Coll, Marchesi e Palacios (2004), há um longo caminho a percorrer, o qual, os pais passam por várias fases desde a constatação da deficiência até a sua aceitação:

 

Primeiro, ao receber o diagnóstico da deficiência, a família entra em choque. Nesse momento, ela pode ficar tão desesperada que, pode até ocorrer bloqueios e esses podem dificultar a compreensão da mensagem recebida, assim como, as orientações. É traumático, no caso de não terem descoberto durante a gestação.

 

Depois de passar pelo choque, alguns pais tendem a ignorar o problema, como se não existisse. Colocam em dúvida o diagnóstico e/ou a competência dos profissionais que atenderam à criança. A aceitação vai acontecendo gradativamente até que se adaptem.

 

Quando os pais se adaptam à situação, a um misto de sentimentos variados que são imprescindíveis para que eles sejam conduzidos às fases seguintes que, são mais construtivas. A irritação, o sentimento de culpa e até depressão podem ocorrer, com mais ou menos frequência podem surgir reações como desapego, ansiedade e fracasso.

 

Posteriormente a essas reações, a grande maioria dos pais atingirá uma calma emocional se adaptando, aceitando a condição do filho deficiente e começam a ter uma visão mais prática, real. Seu foco, a partir desse momento é perceber como poderá ajudar essa criança. Devemos levar em consideração que, cada sujeito é único e como tal, cada um irá reagir de uma forma subjetiva com mais ou menos intensidade.

 

Como foi proposto para a época, aos 18 meses de vida, C.C.S.B. foi diagnosticada e aparelhada, a família até aqui continua sem nenhuma orientação sobre aquisição da Língua de Sinais e o universo do surdo.

 

Começaram as seções terapêuticas duas vezes por semana e constantes exercícios em casa. C.C.SB. faz parte de uma minoria privilegiada porque no Brasil, a grande maioria dos diagnósticos é tardia e isso compromete e muito o aproveitamento do trabalho a ser realizado, bem como o „sucesso‟ dele.

 

Quadros e Cruz (2011) acrescentam,

No Brasil, a Idade Média do diagnóstico de Deficiência Auditiva (D.A) está em torno de 3 a 4 anos podendo levar até dois anos para ser concluído e, dessa forma, acarretar danos irreparáveis para a criança e onerar custos para a Sociedade. Em 1994, num trabalho de tese desenvolvido por Nóbrega (1994), foi concluído que a confirmação diagnóstica de D.A até os dois anos ocorreu apenas em 13% dos pacientes estudados, embora 56% tenham sido suspeitados nesta tesa. Assim, havia um tempo perdido de mais, de dois anos entre a suspeita clínica e a confirmação de D.A. (2011, p.27)

 

O trabalho foi intenso por seis anos ininterruptos. Segundo a fonoaudióloga que atendia C.C.S.B., para que o trabalho tivesse resultado satisfatório, algumas metas precisam ser alcançadas e as metas principais para o uso da audição residual requerem os seguintes critérios:

 

-Identificação precoce da perda auditiva;

 

-Uso adequado e efetivo de dispositivos eletrônicos para surdez e participação da família no processo terapêutico.

 

Aos oito anos, a paciente estava cansada e não respondia mais ao tratamento. Foi, então, nesse período que a fonoaudióloga deu alta a paciente por um ano. Depois desse tempo, a família tentou retornar às seções, mas a C.C.S. B foi relutante, não queria voltar.

 

Paralelamente às terapias C.C.S.B. ingressou na escolinha para „conviver‟ com outras crianças, pois era muito sozinha. Segundo Aranha (2005), a socialização é indispensável no desenvolvimento do ser humano, pois possibilita a interação do indivíduo.

 

Nas duas escolas em que estudou C.C.S.B., foi muito bem recebida tanto pelos professores, quanto pelos colegas, pelo menos aparentemente. De acordo com relatos de C.C.S.B., esse período foi muito difícil. Os anos foram se passando e quando começou o Ensino Médio, as coisas ficaram ainda piores. Agora, eram vários professores e os colegas a olhavam como se ela fosse de outro mundo. A mãe conversava com cada um dos professores incansavelmente e duas das maiores preocupações da mãe era a de a turma não aceitar a filha surda por preconceito e a mesma sofrer bullying e de os professores ministrarem suas aulas ignorando-a. Todo ano, o sofrimento era o mesmo.

 

Segundo a mãe, também nessa escola, não haviam outros surdos. A filha foi reprovada uma única vez, no primeiro ano dessa nova escola, provavelmente devido às mudanças ocorridas.

 

A mãe sempre foi muito presente na escola, sempre participando das reuniões e acompanhava os filhos em todas as necessidades. O acompanhamento da família é extremamente importante, pois o lar e a vida familiar proporcionam as condições necessárias para o desenvolvimento da criança.

 

Cambruzzi (1998) em seu trabalho, afirma que:

É importante notar que as famílias são imprescindíveis no processo educacional dos filhos, pois, as crianças demonstram que estavam desenvolvendo autonomia, conscientização do outro e a convivência em grupo. Lembra que vale salientar que é fator fundamental a parceria escola/família, pois são agentes de transformação em termos individuais e, coletivamente, favorecem a mudança de visão, ainda distorcida, que a sociedade tem à respeito do deficiente (1998, p.90).

 

Sobre a educação de surdos, Goldfeld (2002) afirma que, estes, por muitos anos foram obrigados a se comunicar apenas por meio da Língua Portuguesa na forma oral ou leitura orofacial, o uso de sinais era proibido, pois acreditavam que o uso poderia prejudicar a fala. Para o ensino da Língua Portuguesa o professor mostrava aos alunos surdos palavras em estruturas frasais, de forma mais simples e depois mais complexas. Através de cópias e ditados e era esperado que esses alunos memorizassem as estruturas das frases trabalhadas e as usassem. A ênfase nas palavras limitou os alunos na compreensão dos textos. O grande número de palavras desconhecidas nesses textos desanimava os alunos surdos, afastando-os da leitura. Assim com relação à escrita, o pouco conhecimento da Língua Portuguesa deu resultado no uso de frases simples e curtas, observaram-se dificuldades acentuadas no uso das flexões, na concordância, e na ordem do vocabulário nas frases, não conseguiam fazer uma reflexão sobre o seu funcionamento.

 

Ainda para a autora na década de 80, houve a introdução gradativa da Língua de Sinais na educação dos surdos, com intenção de contribuir com mais um recurso, para ajudar na percepção e uso da língua oral. Essa filosofia de ensino recebeu o nome de Comunicação Total. As críticas feitas a ela, e a luta dos surdos pelo reconhecimento da sua língua e cultura reconhecida, determinaram a adoção da Língua de Sinais na educação dos surdos, essa filosofia ficou conhecida como Bilinguismo. Este apoia e defende o uso de duas línguas na educação desses sujeitos, a Língua de sinais como a primeira língua (L1) e a Língua Portuguesa modalidade escrita, como segunda língua (L2).

 

Considerações finais

 

No relato de C.C.S.B., observa-se que a opção oferecida a ela foi o oralismo, em que sua instrução em nada diferenciava da instrução apresentada aos ouvintes. E essa abordagem, conforme se percebe pelo relato ao final desse artigo, não foi suficiente para suprir suas necessidades.

 

No ano de 2003, mãe e filha prestaram vestibular juntas. C.C.S.B. se inscreveu no curso de Fisioterapia na PUC onde ela permaneceu por um ano, dois períodos e abandonou por motivos pessoais.

 

A mãe se graduou em Pedagogia, e recentemente decidiu fazer especialização em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), e à medida que foi adquirindo conhecimento permitiu-se abrir uma janela de conhecimentos sobre cultura surda e perceber como seu conhecimento privou a filha de se inserir na comunidade surda.

 

À medida que foi crescendo, C.C.S.B., foi se tornando introspectiva, até oito anos de idade, era muito brincalhona, sorridente e adorava ser o centro das atenções. Tempos depois começou a se isolar, mudou seu comportamento até com os familiares. Quando questionada sobre a mudanç,a C.C.S.B. disse que não se sentia bem junto com outros, que começou a perceber que era surda e também porque via as pessoas cochichando (através da leitura labial), falando que a sua voz era estranha e rouca.

 

C.C.S.B. desenvolveu a habilidade de fazer leitura labial de forma excepcional, mas não sabe explicar quem, como e quando isso aconteceu.

 

C.C.S.B. diz que hoje tem consciência de que lhe foi tirado o direito de aprender LIBRAS quando, ainda era um bebê, e sua família, por falta de conhecimento e orientação, aceitou o oralismo como sendo a concepção adequada, naquele momento, mas agora através dos estudos que a mãe está realizando, está conhecendo como acontece o processo de aprendizagem do sujeito surdo. Gostaria muito de aprender LIBRAS, conhecer seus pares e fazer parte da comunidade a qual pertence. Reconhece que foi obrigada a conviver, até agora na comunidade ouvinte, onde a deficiência auditiva é rotulada e depreciada, nunca teve contato ou conheceu outros surdos. Encontrou muitas dificuldades ao tentar se „encaixar‟ nesse meio. Nesse momento, toda a família se conscientizou de que a interação na comunidade surda é essencial, assim como a relação com outros surdos, para a construção de sua identidade surda, de se aceitar como uma pessoa normal, apenas com limitações. Para concluir C.C.S.B. diz que é apta a afirmar que para o surdo é importante realizar sua identificação com a cultura, os costumes, a língua e, principalmente, a diferença de condição.

 

REFERÊNCIAS

 

ARANHA, M.S.F. de Desenvolvimento Competências para Atendimento às Necessidades Educacionais de Alunos Surdos. Brasília: Ministério da Educação, 2005.

BOGO, M. L. F. CAGNINI, Z. V. S. RADUENZ, M. Momento do diagnostico de deficiência e modificações na vida dos pais. Disponível em <https://psicologado.com/psicologia-geral/desenvolvimento-humano/momento/diagnostico-de-deficiencia-sentimentos-e-modificações-na-vida-dos-pais> Acesso em 20 Jul. 2016.

CAMBRUZZI, Rita de Cássia Silveira. Estimulação Essencial ao Portador de Surdez. Anais do III Congresso Ibero-Americano de Educação Especial, volume 3 Foz do Iguaçu-PR; Qualidade, 1998. P.86-90 Disponível em <http://ideau.com.br/getulio/upload/revistasartigos/9_1.pdf > Acesso em: 20 jul. 2016.

CARVALHO, J. M. O ideal de completude narcísica e o adolescente surdo: um estudo clinico. Dissertação de mestrado não-publicada, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2000.

COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação: Transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas especiais. 2. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

GOLDFELD, M. Criança Surda. 7 ed. São Paulo: Plexus Editora, 2002.

QUADROS, Ronice Muller de. Língua de Sinais: Instrumentos de avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2011.

PINHEIRO, Pedro. Rubéola – Sintomas, diagnóstico e vacina. Disponível em <http://mdsaude.com/2009/03/rubeola-sintomas-e-vacina.html> Acesso em 20 jul. 2016.