Profissionais de Saúde: aprendendo a lidar com a morte em sua rotina de trabalho

A morte é um processo natural que chegará mais cedo ou mais tarde a todos nós, uma vez que ela é o contrário de nascimento, ou seja, se nascemos, vamos obrigatoriamente morrer.

Se morrer é um processo natural, por que ainda insistimos em não falar sobre isso? Do que temos medo? Nossa atual sociedade globalizada e tecnicista contribui para que o homem contemporâneo crie cada dia mais, a ilusão de que a morte é uma “coisa” distante, proibida e que só chega para o outro, e desta forma, continuamos acreditando que viveremos desapercebidos e “iludidamente” esquecidos por ela.

Amamos a vida que construímos, as pessoas que convivem conosco que talvez, o fato de parar para pensar que tudo é passageiro, acarreta na maioria de nós, um medo inexplicável da morte. Apesar de evitarmos tocar no assunto, ela está cada vez mais presente em nossas vidas através de filmes, músicas, programas de televisão e até em desenhos animados.

Então, se a morte não é nenhuma novidade, qual a origem de temê-la tanto? Será o medo de não ter o controle da situação? Talvez, por que fomos acostumados a termos escolhas, projetar metas e o fato de não termos essa “autonomia” incomoda muitos de nós. Será o medo de sentir saudades? Saudades de tudo aquilo que conquistamos, das pessoas que são queridas por nós…. Será o medo de ter que prestar conta de todos as nossas atitudes e escolhas um dia? Tantas são as nossas inquietações…

Para nós que escolhemos trabalhar na área da saúde, estes questionamentos são ainda mais profundos, pois fomos treinados para preservar a vida acima de todas as perspectivas. Antes de qualquer situação, precisamos lembrar que somos pessoas de “carne e osso” como qualquer outra, e que não adquirimos “superpoderes” ao nos tornarmos profissionais de saúde. Como seres humanos que somos, possuímos nossos próprios conceitos e medos da morte.

Ao longo de meus 22 anos de experiência no gerenciamento dos cuidados de pessoas com doenças avançadas, percebo que a maioria dos colegas ainda demonstram desconforto ao tratar de alguém em seus momentos finais. Como poderemos contribuir para o bem-estar do paciente e de sua família se não sabemos lidar com a nossa própria morte?

Necessário se faz voltar as salas de aula, buscar por novos conhecimentos que ofereçam estratégias e ferramentas capazes de auxiliar no gerenciamento do processo de morte e morrer, pois, a sociedade grita urgente por profissionais capacitados no atendimento ao controle dos sintomas, alívio da dor e acolhimento no momento da partida de seu ente querido.

A nossa responsabilidade como profissionais cresce ainda mais quando tomamos conhecimento do que acontece no cenário mundial. De acordo com uma pesquisa encomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2015, o Brasil ocupa a 42ª posição entre os 80 Países que possuem a pior qualidade de morte no mundo.

Nós, enfermeiros, médicos, psicólogos, fisioterapeutas e demais colegas da área de saúde, temos o dever de contribuir no processo de mudança desta realidade. Temos o dever de superar nossos medos internos da morte e auxiliar na sua compreensão, a aqueles que estão sob os nossos cuidados. Temos o dever de cuidar com excelência, mesmo que o curar, não seja mais possível. E acima de tudo, temos o dever de acreditar que a morte faz parte da vida!

 

Katy Domingues

 

Sugestões para aprofundamento no tema:

Santos FS. Cuidados paliativos: discutindo a vida, a morte e o morrer. São Paulo:

Atheneu; 2009

 

Pós-graduação em Cuidados Paliativos com ênfase em Práticas Integrativas

Sábados alternados.

Saiba mais sobre essa pós-graduação: https://goo.gl/HP9Obb